Porque de nada adianta corpo se não há cabeça!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Essas bundas do meu Brasil...

Hoje resolvi me apropriar de um texto que recebi por e-mail no final de semana e que realmente fez e faz muito sentido não só a mim, mas tenho certeza de que a todas as MULHERES e homens que nos cercam. Enfatizei a palavra mulheres, pelo fato de que espero a identificação de pessoas reais com este texto e não pessoas fabricadas pela indústria da beleza mundial.
Mulheres que não conseguem se sentir satisfeitas com sua própria beleza natural, e que necessitam dos novos artificios para buscar uma beleza que deve ser encontrada internamente antes de tudo.
Mulher de verdade é aquela que busca seus objetivos com a garra de um homem, porém em cima de um salto. Mulher de verdade é aquela que não descuida de sua beleza, mas que não precisa de 10kg de maquiagem toda manhã, botox em 99% da superfície da face, 20 lipoaspirações por ano e aumentos mamários em busca de uma sensualidade que as torna vulgares.
Não sou contra o advento da cirurgia plástica, longe disso, acredito que a auto-estima e o amor próprio de cada pessoa deve ser cultivado a cada dia, e se isso faz a felicidade de cada um, o que posso fazer? O que me frustra é o fato do culto ao corpo ser tão grande que o culto à mente seja esquecido.
Vivemos em um mundo machista, em que mulheres são os seres que, quando muito bonitos não precisam pensar, apenas a imagem basta. As mulheres que leem este texto querem ser mesmo consideradas objetos de exposição? Eu absolutamente não quero!
Bom, já falei demais, agora divirtam-se com o texto que me gerou tanta tensão:

"A BUNDA DURA"
Tenho horror a mulher perfeitinha.
Sabe aquele tipo que faz escova toda manhã, tá sempre na moda e é tão
sorridente que parece garota-propaganda de processo de clareamento
dentário?
E, só pra piorar, tem a bunda dura?
Pois então, mulheres assim são um porre.
Pior: são brochantes.
Sou louco?
Então tá, mas posso provar a minha tese.
Quer ver?

a) Escova toda manhã:A fulana acorda as seis da matina pra deixar o cabelo
parecido com o da Patrícia de Sabrit.
Perde momentos imprescindíveis de rolamento na cama, encoxamento do
namorado, pegação... pra encaixar-se no padrão 'Alisabel', que é legal, porque
todas as amigas têm o cabelo igual...
Burra.

b) Na moda: Estilo pessoal pra ela, é o que aparece nos anúncios da Elle do
mês.
Você vê-la de shortinho, camiseta surrada e cabelo preso?
JAMAIS!
O que indica uma coisa: Ela não vai querer ficar desarrumada nem enquanto
estiver transando.

c) Sorriso incessante: Ela mora na vila dos Smurfs? Tá fazendo
treinamento pra Hebe?
Sou antipático com orgulho, só sorrio para quem provoca meu sorriso. Não
gostou? Problema seu.
Isso se chama autenticidade, meu caro. Coisa que, pra perfeitinha, não
existe. Aliás, ela nem sabe o que a palavra significa... Coitada.

d) Bunda dura: As muito gostosas são muito chatas.
Pra manter aquele corpão, comem alface e tomam isotônico (isso quando não
enfiam o dedo na garganta pra se livrar das 2 calorias que ingeriram), portanto
não vão acompanhá-lo nos pasteizinhos nem na porção de bolinho de arroz do
sabadão.
Bebida dá barriga e ela tem H-O-R-R-O-R a qualquer carninha saindo da calça
de cintura tão baixa que o cós acaba onde começa a pornografia: nada de tomar um
bom vinho com você. Cerveja? Esquece!
Legal mesmo é mulher de verdade !!!
E daí se ela tem celulite?
O senso de humor compensa.
Pode ter uns quilinhos a mais, mas é uma ótima companheira.
Pode até ser meio mal-educada às vezes, mas adora sexo.
Porque celulite, gordurinhas e desorganização têm solução (e, às vezes, nem
chegam a ser um problema). Mas ainda não criaram um remédio pra
futilidade.

E não se esqueça... 'Mulher bonita demais e melancia
grande, ninguém come sozinho!!!...'



Quando recebi o e-mail com este texto, ele estava atribuido ao grande cronista Arnaldo Jabor, que por sinal é alguém que muito admiro. Entretanto achei algo estranho na linguagem e no tema e por isso resolvi investigar. Ao ir atrás da real autoria do texto, soube que foi alguém se passando pelo jornalista, mas que ainda assim não deixou de ser genial em suas palavras, mesmo que com termos mais chulos do que se recomenda.
Não estou exaltando a atitude do falsário, pelo contrário, não acho correto se fazer passar por alguém para que sua obra seja divulgada. Mesmo que a popularidade fosse melhor com o nome de alguém famoso, não é certo.
Descobri que o texto não era de Jabor pelas palavras do próprio. Ele escreveu um texto excelente (tinha que puxar o saco, estava realmente muito bom) em que criticava não só a atitude do escritor cara de pau (que ele acredita ser uma mulher bem baranga e inconformada), mas a banalização da bunda!

Eu nunca escrevi o ‘Bunda dura’

Eu não escrevi “Bunda dura”, texto que rola na Internet e que
está virando um cult , principalmente para mulheres. Toda hora, alguém me pára
na rua: “Adorei a sua ‘bunda’!” “Que bunda, cara?” — digo, fingindo que não sei
o que é. Não dá outra: “Aquele texto seu, que idéias, que ironias..”, me
responde. Fico louco, porque estou sendo elogiado justamente pelo que não fiz.
Toda semana tento ser inteligente, escrevo sobre o Bush, a crise internacional,
espremo meu pobres conhecimento filosóficos ou sociológicos, capricho na língua,
tudo para ser chamado de “profundo” e, aí, “Bunda dura” vem e é meu prêmio
Jabuti, minha medalha.
Entrei no Google e botei “bunda dura”; pintaram
dezenas de referências. A maioria é de mulheres que, creio eu, não têm ou já
tiveram bunda bonita. Quem será o famoso autor de “Bunda dura”? Creio que é uma
mulher, possivelmente, baranga. Certamente Juliana Paes não protestaria. O
artigo é a vingança de trêmulas nádegas eivadas de celulites.
Tento até
buscar um momento qualquer de brilho no tal texto, para ver se “minha fama”
seria merecida. Não encontro nada. Nos chats, blogs e outras ilhas de bobagens,
pasmo, pois há intensa polêmica sobre mim, sobre um texto que não é meu. Uns
dizem que é genial, que finalmente alguém defende as mulheres de bunda mole.
Outros me esculacham, dizendo que eu sou uma besta. Então, aplicadamente, faço
uma paciente exegese do texto “bunda dura”. Talvez o único conceito que mereça
destaque seja a defesa da importância da “autenticidade”, neste mundo artificial
e virtual. Mas, é pouco, muito pouco, principalmente a “autenticidade” defendida
por um falsário.
Isso dado, devo afirmar aqui minha posição definitiva em
relação à bunda, seja ela dura ou mole. A bunda realmente me inquieta. Dá-me a
impressão de ter se destacado do corpo e de ter ganho uma vida própria.
Antigamente, a bunda fazia parte da mulher completa, talvez mais oprimida, com
celulite e varizes, mas é inegável que a bunda era parte da mulher. Hoje a
mulher é que pertence à sua bunda. Há mulheres que passeiam seus bumbuns como
cachorrinhos de luxo, outras que chegam a ter ciúmes de suas próprias bundas,
mais queridas que elas. Há bundas que chegam a ter pena de suas donas e parecem
dizer: “Prestem atenção nela, ela também é legal”.
Hoje, visivelmente, o
desejo sexual do homem migrou para os bumbums. Nas revistas de sacanagem as
vaginas têm perdido terreno em relação aos bumbuns. Por que será? Talvez porque
a vagina seja um território mais sagrado e mais temido. Dela sai a vida, saímos
todos, há mistério na vagina. Ali é que está a verdadeira diferença sexual, já
que bundas bonitas podem ser de homens e mulheres. A vagina não. Ela angustia os
homens por ser o lugar de uma castração simbólica. Na vagina, “não há” alguma
coisa. A vagina põe os homens diretamente diante de seu oposto. Fala-se muito em
inveja do pênis para as mulheres. Que nada. Hoje, com a liberdade da mulher, o
grande trauma é o “medo da vagina”. Os homens têm medo de enfrentar aquela
entrada para o ventre, aquela porta de caverna onde poderíamos nos
perder.
Chega a haver um movimento nos salões de beleza para devolver à
vagina, melhor dizendo, ao “monte de Vênus”, um novo encanto pós-moderno. Talvez
a velha floresta pubiana, desordenada, inextricável das vaginas d’antanho,
parecesse aos homens uma selva de perigos. Hoje, as mulheres gastam horas
penduradas em trapézios para ter seus pentelhinhos reduzidos a um bigodinho
básico, inocente, como se dissessem: “Venham sem medo... Sou apenas um tufinho
elegante, como o bigodinho do Sarney ou no máximo o bigodão do Greenhalgh do PT,
mas nunca chegarei ao desgrenhamento sinistro de Olivio Dutra. Venham!”.
Mas
talvez não adiante muito, pois homens e mulheres cultivam mais a bundinha porque
ali é o lugar da irresponsabilidade, da não-vinculação, do não-casamento... A
bundinha é livre, não faz nascer, não leva à igreja. A bunda tem mais a ver com
a sexualidade irresponsável e veloz de hoje. A bunda não procria, muito pelo
contrário. A bunda não tem rosto, como o “sujeito moderno”. A vagina é o
lugar do “outro”; a bunda o lugar do “mesmo”. De costas, a mulher fica menos
ameaçadora. Seus olhos, sua boca, seus sentimentos não ficam visíveis. Na
relação anal, todos estão ausentes, não há a perigosa defrontação com um sorriso
irônico, a frieza de um olhar. Na relação anal estamos sozinhos. Além de tudo,
na relação anal ou mesmo “more ferarum” (como as feras) haja um resquício mais
animal, mais ancestral, lembrança de macacos e macacas e não a santificada
“posição do missionário”, como chamavam os selvagens da África, vendo seus
catequistas transando no tradicional “papai e mamãe”. Nesse espantoso panorama
de bundas que vemos em toda parte, barriguinhas de fora, calça baixa e bundinha
empinada, em shoppings, colégios, vemos que a amostragem clara, modelada, das
bundinhas não tem mais nem maldade. É a moda de mercado.
Antigamente, havia a
sedução pelo despertar da curiosidade, pelo atiçamento, para os homens
adivinharem as belezas femininas ocultas. Hoje, com a competição, a exposição
radical de bundinhas é prateleira de ofertas. Há um professor de ginástica que
grita: “Vocês não tem vida interior, não... Só bunda e barriga!”.
Talvez essa
seja a razão do sucesso do texto que não escrevi. Na vida secreta as mulheres
querem ser amadas pelo que são profundamente. Mas ninguém vê suas belezas
internas. É como eu. Ninguém me ama pelo que escrevo. Só gostam da bunda dura
que não é minha.
Texto publicado no jornal O Globo, em 31/08/2004.

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